qua. abr 24th, 2024

O papel da Odontologia do Trabalho na saúde do imigrante no Japão

A Odontologia do Trabalho ainda é uma especialidade pouco conhecida da população, mas ela é uma macroespecialidade reconhecida pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia) desde maio de 2002. Especialistas desta área atuam na equipe de Medicina e Segurança do Trabalho, garantindo a saúde bucomaxilofacial do trabalhador e, assim, a sua saúde integral.

Dentre as áreas de competência de dentistas do Trabalho temos:

  1. Identificação, avaliação e vigilância dos fatores ambientais que possam constituir risco à saúde bucal no local de trabalho, em qualquer das fases do processo de produção;
  2. Assessoramento técnico e atenção em matéria de saúde, de segurança, de ergonomia e de higiene no trabalho, assim como em matéria de equipamentos de proteção individual, entendendo-se inserido na equipe interdisciplinar de saúde do trabalho operante;
  3. Planejamento e implantação de campanhas e programas de duração permanente para educação dos trabalhadores quanto a acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e educação em saúde;
  4. Organizar estatísticas de morbidade e mortalidade com causa bucal e investigar suas possíveis relações com as atividades laborais;
  5. Realização de exames odontológicos para fins trabalhistas;
  6. Elaboração de protocolos de atendimento e gerenciamento de serviços odontológicos em vistas a uma melhor eficiência, bem como a orientação e o treinamento das equipes de serviço bucal.

 

Em relação aos tipos de exames que são realizados em ambiente laboral, temos:

  • Admissionais: O exame odontológico admissional é realizado antes da contratação do funcionário/colaborador, com o intuito de avaliar sua saúde bucal para que se possa estimar se a função que irá exercer e se o exercício da função desejada não trarão agravos para a sua saúde. Este exame não tem a exclusão do trabalhador como objetivo.
  • Periódicos: Os exames odontológicos periódicos são realizados em momentos preestabelecidos para todos os funcionários da empresa. A intenção é fazer o diagnóstico adiantado de possíveis agravos à saúde do trabalhador.
  • Mudança de função: Este exame é realizado sempre que o colaborador for realocado de sua função ou setor original, caso haja o aumento nos riscos ocupacionais a que será submetido.
  • Exame de retorno ao trabalho: O exame odontológico de retorno ao trabalho precisa ser realizado em ocasiões em que o trabalhador permaneça afastado do trabalho por um período igual ou maior que 30 dias, por motivos de doença ou acidente causados pela função exercida.
  • Demissional: O exame odontológico demissional precisa ser feito até a data da homologação, e resume-se a fazer a avaliação da possível ocorrência de algum agravo à saúde bucal do colaborador no período em que esteve na empresa e em decorrência da função exercida.

Fonte: CFO.

Sabemos que para o brasileiro que vem ao Japão, o trabalho está no centro da sua vida não apenas pelo tempo que ele ocupa, mas também pelos objetivos que o trouxeram ao país como prover a família, abrir um negócio ou comprar a própria casa, entre tantos outros fatores. Ainda, a necessidade em boa parte dos casos de se trabalhar em longas jornadas para atender suas demandas financeiras acaba por expor esses trabalhadores aos agravos decorrentes disso para além dos fatores de risco presentes no ambiente laboral e nem sempre devidamente controlados (seja pela falta de EPI – equipamento de proteção individual – adequado, seja pela falta de condições fornecidas pelo empregador, que muitas vezes enxerga esse trabalhador não apenas como dispensável e facilmente substituível, como também temporário e cujo investimento em Segurança e Higiene do Trabalho não são tão importantes).

 

Outro aspecto a ser considerado é a parte financeira desse brasileiro, que muitas vezes vêm ao país em situação econômica pouco confortável e acaba por negligenciar sua saúde e a realização de exames e tratamentos prévios ao seu embarque. Após a chegada ao país, devemos considerar o tempo de adaptação e estabilização dele e da família se houver, o que mais uma vez leva a saúde para um segundo (ou último) plano.

O desconhecimento do idioma e do funcionamento do sistema de saúde (hoken, por exemplo), a dependência da empreiteira para ir às consultas, a falta de meio de transporte, horas livres, os cuidados com a família e o estranhamento com a forma de trabalhar de dentistas japoneses são outras questões a serem observadas.

 

O resultado disso é que não é raro encontrarmos brasileiros que estão há muito tempo sem ir a uma consulta odontológica. Temos que ter em vista que as doenças bucais mais comuns como a cárie e a gengivite são de caráter crônico e tendem a evoluir para quadros mais graves como a periodontite com perda do osso de sustentação dos dentes e a necrose pulpar que demanda o tratamento de canal, quando não a perda do dente e outras sequelas de caráter permanente o que torna os tratamentos mais complexos, caros, longos e difíceis. Uma verdadeira bola de neve que muitas vezes acaba com a insatisfação dos pacientes além de tratamentos mal sucedidos, comprometendo a função e a estética ou quadros de dor crônica com o abuso de analgésicos e perda da qualidade de vida. É preciso que haja maior conscientização não apenas desses trabalhadores mas também de seus empregadores bem como lembrar que medicamentos como antibióticos e anti-inflamatórios não eliminam as doenças bucais, que demandam a intervenção do dentista para saná-las e controlar os agentes agressores, além de corrigir hábitos alimentares e a higienização deficiente que contribuem para o surgimento e agravamento dessas doenças.

 

O stress é outro fator muito presente na vida dos imigrantes brasileiros no Japão devido ao estilo de vida no país. Quadros avançados de bruxismo com desgaste acentuado dos dentes e próteses e até mesmo a fratura deles não são incomuns e levam a uma maior complexidade no tratamento. Também o dentista do Trabalho é responsável por campanhas educativas e de prevenção de doenças, entre elas o câncer bucal e o combate ao tabagismo e o alcoolismo.

 

Como vimos anteriormente, alguns desses fatores não dependem da vontade do trabalhador mas da empresa em prover essas necessidades, inclusive na disponibilidade de tempo para que possam ir às consultas médicas e odontológicas sem que haja prejuízo no trabalho e sua remuneração e até mesmo espaços adequados para a realização da higiene bucal pelo trabalhador. Pois como bem sabemos, emergências odontológicas e dores de origem bucal estão entre as principais causas de ausência (absenteísmo) no trabalho. Mesmo que esse trabalhador recorra à automedicação para controlar a dor, os efeitos colaterais bem como um efeito ineficaz levam ao absenteísmo de corpo presente, no qual mesmo que o trabalhador compareça ao seu posto, ele provavelmente terá dificuldade em se concentrar, estando mais sujeito a erros, acidentes e queda na produtividade.

 

Assim, o dentista do Trabalho diferente do cirurgião-dentista atuante em consultório irá não apenas identificar os fatores de risco para a saúde do trabalhador que muitas vezes pode passar despercebido pelo clínico geral e pode acabar por influenciar o resultado do tratamento, mas terá uma abordagem holística desse indivíduo em vistas à prevenção de doenças e a promoção de saúde e a busca por um atendimento satisfatório no serviço de saúde bucal.

 

Em outros artigos abordaremos como a imigração ao Japão pode impactar a saúde bucal do trabalhador. Não deixem de procurar por atendimento profissional e não tenham vergonha de buscar ajuda. Muitas pessoas se acanham com a possível reprovação por parte do profissional ao se deparar com uma condição precária de saúde bucal após anos sem tratamento. De forma alguma um profissional ético fará esse tipo de julgamento sobre você. O mais importante é que você cuide de si. Até a próxima.

 

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